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27/02/2011

O QUE FALTA � PREPARA��O! Entrevista de Nelson Pessoa

Como � essa sua rela��o de vir de vez em quando ao Brasil?

Sempre fiz e gostei de fazer clinicas. Fiz bastante aqui no Brasil, no passado, mas atualmente n�o vinha fazendo muito por falta de ter uma pessoa que organizasse, fazendo os contatos, o local e tudo mais. Agora venho tendo uma rela��o muito grande com o Sergio Stock, que tem ido montar conosco na Europa e se interessou em desenvolver isso. Como fa�o muitas clinicas por ano nos Estados Unidos e Europa, vir ao Brasil foi uma coisa boa, porque aqui revejo meus amigos, � a minha l�ngua e posso passar experi�ncia e esse ensinamento �queles que querem.

Por que a op��o de morar na Europa?

Hoje em dia, a equita��o no Brasil, digamos profissional, est� bem evolu�da e tem uma atividade bastante grande. Mas 40 anos atr�s n�o tinha nada. O esporte era diletante. Aqui no clube (H�pica Santo Amaro) tinha meia d�zia de cavaleiros, outros poucos na H�pica Paulista, na do Rio de Janeiro etc. Nos anos 60, n�o se podia permitir viver dos cavalos. Ali�s, o profissional n�o tinha acesso ao clube. O cavaleiro profissional nem sequer tinha acesso �s instala��es sociais do clube. Ent�o voc� v� que era impeditivo. Hoje n�o, esse conceito terminou com os jogos ol�mpicos l� nos anos 80; hoje � mais profissional.

Podemos apontar que a falta preparo do cavalo no Brasil � o principal obst�culos?

Sim, n�s temos, bastantes, mas os cavalos que n�s expomos no Pa�s n�o est�o no n�vel ainda dos grandes cavalos mundiais. N�o h� duvida nenhuma, n�o tem ningu�m que discute isso.

Qual a sua avalia��o do cavalo Brasileiro de Hipismo, por exemplo?

Temos uma cria��o que est�regular, de boa qualidade. S�o cavalos de uma origem, mesmo sem serem a top internacional. Mas est� faltando alguma coisa na prepara��o dos cavalos. Tem algum caminho que n�o est� funcionando bem, porque h� muitos cavalos nascido aqu� que foram para o estrangeiro e se desenvolveram; os cavalos que ficam n�o se desenvolvem. Tem cavalos que foram para Col�mbia, Venezuela, M�xico, Europa e se sa�ram bastante bem. Agora todas as nossas equipes n�o s�o compostas por nenhum cavalo nascido, criado e treinado aqui.

Poderia apontar um problema, aqui no Brasil, na quest�o da prepara��o dos cavalos?

De forma geral, � um pouco a acelera��o, muito apurado o desenvolvimento do cavalo. H� muita competi��o e isso submete o cavalo a um esfor�o prematuro.

Pelo que o senhor diz, os cavalos est�o entrando em competi��es muito precocemente, sem antes ter uma experi�ncia. Isso � um problema do Brasil?
N�o tanto a competi��o, mas treinamento excessivo para o cavalo. O cavalo de cinco, seis anos, basta ele treinar pela altura que ele compete, 1m20, 1m30, mas aqui vejo as pessoas puxando os cavalos demais. Isso � uma observa��o geral e todo mundo concorda com isso. Agora cada um faz com o seu cavalo que quer. N�o posso proibir de treinar o seu cavalo demais, n�o podemos.

Falta ent�o, de forma geral, treinadores qualificados no pais?

Eu diria isso. Todo mundo diz isso, � um fato reconhecido, mas ningu�m superou ainda essa barreira. O que se poderia fazer eu n�o sei. Proibir o cavalo de saltar muito, proibir o cavalo de saltar alto? N�o sei, porque, afinal cada um age com o seu cavalo da forma que quer. Mas � uma pena, porque seguramente est� se perdendo muitos cavalos.

O senhor tamb�m j� criticou a falta de qualifica��o na forma��o de professores?

Bom, aqui no Brasil todo mundo d� aula. Tem mais professores do que alunos. Como resolver isso? Os respons�veis t�m que sentar em torno de uma mesa, confirmar esse diagn�stico e tomar uma iniciativa. N�s n�o temos nenhum professor que tenha uma forma��o, uma experi�ncia. N�o sei, eu n�o conhe�o todos os professores daqui, mas se perguntar: aprendeu com quem? Com ningu�m! De onde veio? Do Mato Grosso, da selva �� Ah, senhor � �ndio? N�o, professor de equita��o. Muito bem (risos). Na Europa, tem escola para isso. Tinha que ter m�nimo um crit�rio, da pessoa apresentar um curr�culo. Mas aqui n�o precisa nada disso.

Quer dizer que qualquer uma pode dar aula?

Sim, e digo isso mesmo para as crian�as, que � ainda mais perigoso. Temos visto no passado casos de acidentes fatais com crian�as, porque falta prud�ncia, falta escola.

O senhor foi formado na escola dos militares. Faz falta isso hoje?

Faz, claro! H� 50 anos dizia que equita��o praticada aqui era, em geral, melhor do que hoje em dia. Para cinco cavaleiros daquela �poca, hoje existem 500. O numero cresceu muito. Entretanto, entre os anos 50 e 60, n�s fomos para Europa e tivemos resultados internacionais com cavalos nascidos e criados aqui, o que n�o acontece hoje. Os cavalos nascidos e criados no Brasil, se v�o para Europa n�o conseguem resultado nenhum. Nos anos 50, o General Eloy, o Coronel Renildo, foram 4� lugar na Olimp�ada; ganhamos a Copa da Na��es com quatro cavalos brasileiros nascidos, criados e treinados aqui. Hoje em dia isso poder� acontecer porque temos todos cavaleiros criados e formados na Europa, com cavalos europeus tamb�m formados na Europa.

A Europa evolui ou n�s que regredimos?

Creio que os dois.

A quest�o econ�mica n�o � uma grande dificuldade para os cavaleiros se manterem aqui? A baixa premia��o, por exemplo?

Ok! A baixa premia��o � sempre a mesma. Na Europa as pessoas tamb�m reclamam da baixa premia��o; a premia��o pode ser sempre maior. Agora, a premia��o maior ajudaria no treinamento dos cavalos tamb�m? O que iria modificar? Ao contrario, iria prejudicar, porque iriam for�ar os cavalos mais ainda. N�o acho que isso � explica��o, n�o. A baixa premia��o � lament�vel sobre todos os aspectos, mas ela n�o ia fazer o n�vel dos cavalos aqui aumentar.

O que falta � conhecimento t�cnicos?

O que falta � preparar mais os cavalos e n�o for��-los tanto.

� uma quest�o cultural?

No fim do ano passado pessoas daqui mesmo reclamaram. O Carlos Johannpeter escreveu um artigo criticando a maneira de prepara��o dos cavalos para os campeonatos de cavalo jovem. � uma coisa not�ria, n�o sou eu quem est� dizendo; minha participa��o apenas � uma a mais.

Essa dificuldade em preparar os cavalos � particularmente nos cavalos de Salto e hipismo ou em outras modalidades tamb�m?

N�o posso dar muita opini�o nas outras modalidades, mas no salto, sim. Agora, no Concurso Completo nosso cavalo ainda est� muito fraco. � uma modalidade na qual o ensinamento � mais importante que o Salto, e da� eles sofrem demais e v�o muito mal. Vimos nas ultimas quatro olimp�adas as mesmas coisas: saem em �ltimos lugar no adestramento, fazem zero falta na prova de salto, mas � muito tarde e n�o conseguem recuperar mais.

Quer dizer que precisamos melhorar no adestramento?

Vamos citar um exemplo: eu n�o tive a op��o de levar muitos cavalos para a Europa, mas levei um potro daqui de dois anos e meio, filho do Baloubet, nascido aqui. Ele est� agora com seis para sete anos e � um dos cavalos mais proeminentes que existem l�. Se estivesse aqui j� estaria competindo, L� est� se adestrando, se formando fisicamente e se tornando um atleta. Se estivesse aqui acredito que j� tivesse feito 50 provas e n�o teria chance. Acho que ele vai ser um cavalo do n�vel do Baloubet. Mas isso leva tempo. Rodrigo o montou uma vez no ano passado. Agora est� sendo montado por jovens cavaleiros que trabalham comigo, feito provas da direita, esquerda, at� atingir a idade de sete/oito anos.

Essa ansiedade se faz pela necessidade de se fazer os investimento virar lucro?

� falta de cultura. � falta de as pessoas sentirem que isso faz mal aos cavalos. Est�o fazendo uma coisa que est� prejudicando a eles mesmos e aos cavalos. Os ju�zes dizem a mesma coisa, mas ningu�m toma as provid�ncias que devem ser tomadas.

Como deve ocorrer a integra��o entre cavalos e cavaleiros?

A integra��o deve ser feita entre os quatro e oito anos e de forma tranq�ila, deixando o cavalo se formar por ele mesmo, e n�o for��-lo � atingir n�veis, n�o existe isso. Vamos transportar para outro meio. Se voc� pegar um juvenil de 14 anos, medic�-lo para ganhar musculatura e empurr�-lo para a divis�o superior, vai arrebentar o atleta. O mesmo exemplo para qualquer outro esporte. Agora, em qualquer outro esporte, essa forma��o � feita por t�cnicos e aqui s�o feitas pelo dono do cavalo, ou pelo cavaleiro do cavalo.

Como for a sua forma��o?

Quando iniciei, para come�o de conversa, t�nhamos muito respeito pelo instrutor e pelo seu superior, coisa que n�o existe mais hoje. Depois fui para a Europa. Hoje crio cavalos. Um dos melhores cavalos que o Rodrigo tem nasceu na nossa casa; hoje tenho cerca de 10 cavalos criados em casa.

Percebemos na sua clinica que o senhor enfatiza muito condu��o. Nota-se, tamb�m, que a grande dificuldade n�o � saltar, mas conduzir o cavalo�

� um esporte que s�o dois, um animal vivo entre as pernas e um cavaleiro. Um tem que comandar o outro; o cavaleiro tem que comandar o cavalo, ent�o, para isso, tem que se acreditar nisso e trabalhar esse ponto para desenvolver essa parte. � a parte, digamos, menos agrad�vel do esporte que � esse plano de prepara��o, mas extremamente importante. Aqui as pessoas s� gostam de saltar. Voc� olha para os picadeiros e est�o todos vazios, porque n�o tem assist�ncia. Chega aqui, aqui a pista cheia de gente saltando.

Como avalia o desempenho dos cavalos Lusitanos no Adestramento das Olimp�adas?

Acho um grande esfor�o dos criadores. Eles criam por uma grande paix�o a esse tipo de cavalo, mas � uma disciplina na qual est�o longe de chegar a emparelhar com os cavalos holandeses e alem�es. Isso vai ser uma miss�o muito dura.

Para finalizar, qual a grande li��o que o senhor aprendeu desse conv�vio com os cavalos durante tanto tempo?

O cavalo ensina a voc� muita coisa. O cavalo � o melhor professor de mod�stia a humildade. Voc� est� contando com o cavalo, mas chega na competi��o e ele mostra a voc� que n�o � bem aquilo, que voc� n�o est� no ponto. � preciso paci�ncia.. paci�ncia.. Voc� tem sempre que aprender algo a mais, para poder compreend�-lo entend�-lo. Os cavalos falam, escutam, se manifestam.. Cavalo � uma crian�a e faz uma atividade para a qual n�o feito para isso. N�o foi para carregar um homem e saltar obst�culo. O cavalo � um grande mist�rio, eterno segredo.


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